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Relacionar-se em tempos quarentena.

Atualizado: 29 de mai. de 2020




Inegavelmente são novos tempos e novas configurações para todas as formas de relação. Seja no modelo de trabalhar, amar ou mesmo na nossa relação com o mundo. Agora todes estamos convivendo em outro formato e isso gera consequências no nosso modo de nos relacionarmos.

Se novas circunstâncias geram novos aprendizados, quem está nessa quarentena compartilhando a casa com outra pessoa está em um processo de autoconhecimento e conhecimento do outro. Com aumento da convivência, aumentam também as negociações, a administração das tarefas da casa, os limites de cada um, até o uso dos espaços começa a exigir algum alinhamento. Ou seja, cresce a intimidade e também os conflitos, se estivermos em um relacionamento amoroso, então, mais ainda.


Aprendemos rapidamente que distância e proximidade tem menos relação com o espaço físico e mais com nossa forma de lidar com abertura e fechamento de canais de conexão. Por habitarmos o mesmo espaço o dia todo, temos a sensação de estarmos juntos demais, embora muitas vezes estejamos completamente distantes, cada um no seu trabalho, na sua tarefa doméstica, na sua série, no seu livro e não nos damos conta de que, embora juntos, não estamos levando em consideração a qualidade desses momentos. Limites e individualidades são tão importantes quanto compartilhar um momento juntos. Alguns teóricos falam sobre este momento ser um acelerador de processos, no qual inquietações, desconfortos, inseguranças e mudanças que estávamos evitando agora vêm à tona nos impedindo de desviar o olhar. E isso afeta diretamente nossas relações. Somos empurrados a refletir sobre a qualidade e as motivações que nos fazem cultivar algumas relações e não outras, nossas expectativas, projeções, carências, quem nos faz bem e por que o faz. Inevitavelmente, a maior proximidade com o outro também é uma maior proximidade com nós mesmos. Podemos perceber que nossa intolerância, irritação ou incômodo muitas vezes tem muito mais relação conosco do que com qualquer elemento externo. Tudo está mais potencializado, polarizado, fora do nosso controle e isso gera muita instabilidade. Isso nos tira da zona de conforto e nos obriga a tomar decisões rápidas, improvisadas, que nos mostram ainda mais nossos valores. A fragilidade da vida nos coloca sob novas perspectivas, repensamos nossos trabalhos, nossos planos, com sorte repensamos também nossas formas de nos relacionar, seja com a gente mesmo, com as pessoas do nosso convívio e com as mais distantes, até com aquelas que nem conhecemos.

Vivemos sob uma espécie de pacto social, em que cuidar de si mesmo é uma forma de cuidado coletivo. Nossas decisões, posicionamentos e atitudes mostram, mais do que nunca, nosso respeito e valorização da vida do outro, pois estamos lidando com a responsabilidade social de uma maneira ímpar.


Que aprendamos a lidar com nossas relações de uma forma mais afetiva, responsável e consciente! Relacionar-se em tempos de quarentena é sobre autoconhecimento, afeto e também sobre senso de coletividade. Autora: Laís Sirtoli


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